sexta-feira, 12 de junho de 2015

Humano não acompanha aceleração do mundo. O que fazer?

Humano não acompanha aceleração do mundo. O que fazer?






O sociólogo alemão Hartmut Rosa (1965), que é autor, dentre outros, do livro Aceleração social: Uma nova teoria da modernidade, é um dos pensadores mundiais mais renomados na atualidade.[1] Em uma das suas complexas e controvertidas teses (que estão sendo acaloradamente debatidas em todo planeta evoluído) ele sustenta que a aceleração social, institucional e individual está muito defasada em relação à aceleração das tecnologias e da economia. Esse processo assimétrico, diz o autor, vem acontecendo há quase três séculos (isto é, desde a modernidade).

A história da modernidade (regida, desde logo, pelas Primeira e Segunda Revoluções Industriais – metade do século XVIII, a primeira, e da metade do século XIX à metade do século XX, a segunda: máquina a vapor, nova produção têxtil, surgimento de mais profissões e mais mercadorias produzidas, crescimento urbano veloz, mecanização do campo, ferrovias, transporte mais ágil, automóvel, telégrafo, rádio, telefone, televisor, avião etc.) assim como da pós-modernidade (mais ou menos contemporânea à Terceira Revolução Industrial – tecnocientífica, iniciada na segunda metade do século XX, e que teve como ponto culminante até agora a revolução das tecnologias da informação e da comunicação: robôs, internet, globalização etc.) é, ao mesmo tempo, a história da aceleração do mundo e do capitalismo, que significou grande ganho de tempo em virtude do aprimoramento dos processos tecnológicos mas, concomitantemente, escassez de tempo para o humano, que já não consegue desfrutar de todas as oportunidades oferecidas durante uma existência, apesar da sensação de nunca poder descansar (diante do volume de informações e inovações).

Humano no acompanha acelerao do mundo O que fazer

O descompasso é mais gritante quando confrontamos as forças de aceleração (revoluções tecnológicas, rápidas mudanças sociais e ritmo de vida) com as instituições que existem para manter a segurança no presente bem como a confiança nas expectativas futuras (o direito, o Judiciário, a governança, a família, as religiões, o legislativo, a democracia, o Estado etc.).[2] As primeiras estão atropelando as segundas quando essas se apresentam como obstáculos ou estão tornando a vida mais complexa onde as instituições do país historicamente já não funcionam bem (como é o caso do Brasil, em razão da sua ignominiosa formação histórica[3]). Como as instituições andam a reboque da aceleração do ritmo de vida, a estabilidade (governamental e social) vai se tornando cada vez mais precária e emergencialista (com sérios riscos, em algumas partes do planeta, de desmoronamento do tecido social). Considerando-se que vitoriosas têm sido as forças de aceleração (desestabilizadoras), o colapso das instituições (particularmente onde nunca funcionaram satisfatoriamente) já está com suas vísceras expostas, o que significa o incremento dos conflitos sociais.

São mais do que evidentes as “dessincronizações” (Hartmut Rosa) entre o mundo técnico-científico e econômico (globalização, revolução informática e comunicacional, robotização etc.), de um lado, e as esferas individuais, políticas e educacionais, de outro. Os horizontes temporais e cognitivos dos humanos, das democracias e das deliberações políticas assim como do processo educacional que deveria proporcionar aptidões diferenciadas aos cidadãos estão gerando incontáveis consequências desequilibradoras, destacando-se, dentre elas, as seguintes:

(a) estamos perdendo a oportunidade de eliminar ou diminuir o grau de alienação dos indivíduos que, mesmo perdendo o controle da celeridade, poderiam (1) estar se enriquecendo de conteúdos (as redes sociais difundem muita ignorância e intolerância, mas também tem o lado B, positivo em termos de conquistas de habilidades e competências), (2) estar transformando suas relações sociais com participação mais ativa na vida política do país (desprezando, as mesmo tempo, as superficialidades) e (3) ser mais previsíveis em seus futuros (fazendo planejamentos não apenas de curto prazo, seja na vida pessoal, seja na institucional ou coletiva);

(b) a implacável falta de confiança nas democracias (sobretudo as puramente eleitorais ou procedimentais), que coloca em xeque a noção (sempre discutida) de representatividade dos políticos (que tendem a tomar decisões cada vez mais demoradas, imprecisas e desconectadas da realidade, porque miopemente presos aos compromissos corporativos dos financiadores das suas campanhas);

(c) o eterno retorno e expansão das doutrinas ultraconservadoras (as pessoas, não entendendo a realidade complexa e mutante que vivemos, tendem a adotar posições mais conservadoras para a preservação de um certo “status quo”) e

(d) o enfraquecimento das doutrinas das esquerdas (progressistas) para estabelecer um projeto comum de vida comunitária diante das disparidades abissais dos agrupamentos sociais (desigualdades imensas) bem como das demandas urgentes e tão heterogêneas desses mesmos grupos. A aceleração do mundo está desnorteando completamente boa parcela dos humanos que jamais tinha experimentado tantas mudanças em tão pouco tempo (apenas 300 anos).


Veja mais;

http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/196674530/humano-nao-acompanha-aceleracao-do-mundo-o-que-fazer?utm_campaign=newsletter-daily_20150610_1289&utm_medium=email&utm_source=newsletter

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